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Abortos em ruminantes, causas e consequências:

A perda fetal pode se manifestar de diferentes formas em um rebanho, dependendo do período gestacional em que a matriz se encontra:

Perdas embrionárias: ocorrem mais precocemente, sendo consideradas nesta categoria as perdas que ocorrem em até 42 dias de gestação em bovinos e em até 20 a 30 dias em ovinos. Manifestam-se basicamente através do retorno ao cio, podendo passar despercebidas pelos produtores por não haver a visualização do produto perdido.

Aborto: é definido como a expulsão do feto antes que ele possua capacidade de sobreviver fora do ambiente uterino. Em rebanhos saudáveis, uma taxa de perdas fetais de até 2% é esperada. Que ocorre após 42 dias de prenhes até o nascimento do ruminante.

Níveis superiores a 5% (ou então um número muito elevado de abortamentos em um curto período de tempo e/ou em determinado local) podem indicar problemas reprodutivos nos animais. Nestes casos, uma ampla gama de causas deve ser considerada como desencadeadora do abortamento, envolvendo as de origem não infecciosa (medicamentos, plantas tóxicas, erros de manejo) ou infecciosas (virais, bacterianas, parasitárias e fúngicas). Dentre todas estas origens, as de caráter infeccioso predominam nos rebanhos de ruminantes em todo o mundo.

Mumificação fetal: ocorre quando há morte fetal e a cérvix da matriz permanece fechada, não havendo a entrada de microrganismos no ambiente uterino. O feto permanece retido no interior do útero e sofre um processo de desidratação, tornando-se firme e diminuído de tamanho. É detectado através de palpação retal, e o problema é visualizado pela ausência da manifestação de cio na matriz.

Maceração fetal: ocorre quando há morte fetal e a cérvix da matriz abre-se, permitindo a entrada de microrganismos, ou quando já há endometrites (infecções uterinas) pré-existentes, com bactérias que causam a rápida decomposição do feto no interior do útero, muitas vezes levando a complicações de toxemia e morte da matriz.

Natimorto: é definido como um produto que já teria condições de viver fora do ambiente uterino, no entanto nasce morto, ou seja, ocorre apenas no terço final da gestação. Pode morrer durante o pré-parto (por causas infecciosas ou metabólicas), durante o parto (distocia fetal ou materna, partos desassistidos) ou pós-parto (nasce fraco e doente, consegue sobreviver poucas horas e vem a óbito em seguida).

Determinar qual a causa do abortamento em um rebanho é fundamental para evitar perdas econômicas ao produtor. Tais perdas são geradas tanto pelo prejuízo direto em decorrência do produto perdido, quanto pelos custos indiretos, que envolvem a necessidade de auxílio profissional, os custos de técnicas diagnósticas, a redução na vida produtiva dos animais e o aumento no descarte. No entanto, existem dificuldades no estabelecimento conclusivo das causas de abortamento em ruminantes em virtude da necessidade de múltiplos testes diagnósticos e da rápida decomposição dos fetos, as quais influenciam o sucesso da detecção dos agentes envolvidos.

O desconhecimento dos agentes causadores de abortamento desencadeia a sua propagação entre os animais do rebanho e também de propriedades vizinhas, perpetuando este problema reprodutivo e causando perdas econômicas a longo prazo aos produtores envolvidos, o que pode trazer também transtornos para a saúde humana quando o agente causador possui potencial zoonótico. Estabelecendo o diagnóstico, é possível tomar medidas de controle e profilaxia do rebanho monitorando propriedades positivas para agentes infecciosos e alertando para a sua ocorrência em outras propriedades.

O importante neste tipo ocasião é ter o maior número de informações sobre a fêmea, questões de marcações individuais. Isso ajuda muito no diagnóstico das doenças.  Importante neste caso chamar um médico veterinário para fazer toque e questionamentos para saber a causa dos abortos.

1 Quando foi inseminada ou coberta

2 Registro de prenhes por toque

3 Quanto tempo de prenhes ou prazo de parto

Doenças parasitárias:

Neosporose.

Causa: Neospora caninum. Principal causador de abortamentos e natimortalidade em bovinos no mundo, crescente também para desordens reprodutivas em pequenos ruminantes.

Hospedeiros: são os cães, além de canídeos selvagens, enquanto seus hospedeiros intermediários englobam uma série de mamíferos, em especial os ruminantes, onde seu parasitismo resulta em importantes perdas econômicas decorrentes de problemas reprodutivos.

Os cães infectam-se principalmente devido ao seu hábito de carnivorismo, ingerindo cistos teciduais do parasito contidos na musculatura esquelética, envoltórios placentários dos hospedeiros intermediários. No organismo dos cães, ocorre a ruptura deste cisto com instalação de bradizoítos na parede intestinal, permitindo a reprodução sexuada do N. caninum para formação de oocistos não esporulados, ou seja, não infectantes, que são liberados nas fezes dos cães (DUBEY et al., 2007).

Consequências: Caso a fêmea bovina ou ovina esteja prenhe no momento da infecção, estes taquizoítos atingem a placenta e levam a um processo de necrose, inflamação e trombose, culminando, muitas vezes, na 13 mortalidade fetal. Esta forma de transmissão, da mãe para o feto, é chamada de vertical (MCALLISTER et al., 1998; DUBEY et al., 2007).

Abortos em qualquer momento da gestação, tem maior incidência no final da gestação acima dos seis meses, além do nascimento de bezerros ou cordeiros fracos, natimortos, ou nascidos clinicamente saudáveis.

Cuidados: Não existe tratamento ou vacina para neosporose, portanto deve-se priorizar o controle da doença, que é difícil, exige metas a longo prazo e investimento do produtor.  A eliminação das fêmeas soropositivas pode ser a medida mais adequada se a 16 soroprevalência for baixa, porém se for elevada, as ações a serem tomadas não devem ser tão drásticas.  

Realizar compra de animais e pedir a sorologia individual.

Evitar a interação de cães com o rebanho para prevenir a contaminação fecal de água, pastagem e instalações; isolar galpões de armazenagem de sal mineral, ração e/ou silagem; estabelecer na propriedade um piquete maternidade, evitando assim a contaminação da pastagem de toda a propriedade com conteúdo placentário que possa ter formas infectantes do protozoário.

Toxoplasmose:

Causa: protozoário Toxoplasma gondii,

Hospedeiros: Os felinos tanto domésticos quanto selvagens, enquanto seus hospedeiros intermediários podem ser qualquer espécie de mamífero ou ave. Os felinos infectam-se predominantemente pelo hábito de carnivorismo, ingerindo taquizoítos ou cistos contendo bradizoítos principalmente na musculatura esquelética e nos restos de suas presas. A partir daí, há a formação de oocistos não esporulados (não infectantes) no nível intestinal que são liberados em suas fezes.

Consequências: A perda fetal ocorre pela migração dos taquizoítos para a placenta, levando a um quadro de inflamação, necrose e trombose. O feto, portanto, vem a óbito por uma variedade de fatores, como a restrição de oxigênio provocada pelas lesões placentárias.  Ocorrências mais frequentes em ovinos.

Cuidados: Não há tratamento ou vacinação, portanto, deve-se priorizar o controle da enfermidade no rebanho por sorologia.

Há uma forte associação entre alta soroprevalência para T. gondii em ovinos e o convívio destes com felinos no local, seja do próprio produtor ou 19 de propriedades vizinhas. Estas chances são ainda superiores se houver a livre circulação dos felinos, com a prática do carnivorismo, o acesso a pastagens e fontes de água. Gatos castrados, criados em ambiente domiciliar e sem acesso a vísceras cruas possuem menos chances de ser contaminados pelo protozoário,

Realizar compra de animais e pedir a sorologia individual.

 Tricomonose

Causa: Protozoário Tritrichomonas foetus. é transmitido do macho para a fêmea durante a monta natural. Esta doença foi erradicada em muitos países que utilizam a inseminação artificial de modo intenso. já nos locais onde o controle sanitário não é eficaz e há criação prioritariamente extensiva ou se utiliza mais a monta natural, a tricomoníase ocorre de forma mais frequente. Por acarretar diversos problemas reprodutivos

Hospedeiros: Não possui hospedeiros.

Consequências: Sua principal manifestação clínica no rebanho é o retorno ao cio, quando ocorre perda embrionária, ou então abortamentos com maior frequência até o quinto mês de gestação. Deve-se suspeitar de Tricomonose quando há taxa de natalidade menor que a esperada e estação de nascimentos prolongada (em gado de corte). Raramente os touros apresentam algum sinal clínico da infecção, mas quando isso acontece, pode haver a presença de uma discreta balanopostite, ou seja, inflamação da glande e do prepúcio.

Cuidados: Base no histórico reprodutivo do rebanho e no isolamento e identificação de T. foetus em amostras de placenta, feto, secreções uterinas ou vaginas, esmegma ou sêmen dos animais suspeitos.

As principais medidas de controle são a adoção da inseminação artificial e o repouso sexual de 90 dias para as fêmeas. Existem vacinas comerciais contendo T. foetus mortos que têm demonstrado significativa redução da morte embrionária quando as vacas entram em contato com o patógeno em questão.

 Brucelose:

Causa: bactérias do gênero Brucella spp. Devido ao seu potencial zoonótico, é de extrema importância tanto para a produção animal como para a saúde pública, e por conta disso, quando se evidencia um caso de brucelose, deve-se notificar obrigatoriamente aos órgãos responsáveis.

Transmissão: A transmissão de animal para animal ocorre predominantemente através do contato direto, influenciada pelo hábito de lambedura de membranas fetais, fetos abortados e neonatos de outros animais do rebanho; ou por contato indireto, através de pastagem e água contaminados (ACHA & SZYFRES, 2003). As principais formas de eliminação do agente incluem secreções e excreções, como leite, urina e secreções eliminadas durante o parto, com os anexos fetais constituindo a mais importante forma de contaminação, pois carregam alta carga bacteriana. Também pode ocorrer transmissão durante a monta natural.  

Consequências: Abortos após o sexto mês de gestação em vacas ou 3 e 4 meses em ovinos. Repetição de cio frequente, nascimento de bezerros fracos, retenção de placenta, macho infértil, Orquite, inflamação nos testículos, Artrite, problemas nas articulações.

Cuidados: Realizar a compra de animais com exames negativos para brucelose e tuberculose.

Em Santa Catarina possui o menor índice de brucelose do Brasil com menos de 0,9 % . Onde é obrigatório a coleta de leite para exames no Anel do leite duas vezes ao ano, que pode ser detectado a bactéria nos animais.

Brucelose é uma zoonose, doença que passa para as pessoas. Que pode ser transmitida pelo consumo leite não pasteurizado ou queijo, contado de placentas, feto e contato de sangue. Importante usar luvas de para trabalhar com os animais.

Na propriedade com foco da doença após a realização dos exames com resultados negativos, o produtor é obrigatório a vacinar os animais contra a doença.  E na propriedade com vinculo de foco ou tenha vínculo com a doença é permetida a vacinação.  Uso da vacina RB 51 com idade acima de 3 meses de vida.

Em todo o território catarinense, é proibida a vacinação contra brucelose em bovinos e bubalinos machos de qualquer idade.

Ruminantes reativos para qualquer teste de triagem para a brucelose devem ser submetidos a abate sanitário, evitando a disseminação da enfermidade entre rebanhos, e seus subprodutos não podem ser consumidos. Os produtores vão receber uma indenização quando acontece o abate sanitário, para poder comprar animais para a continuação da propriedade. 

Uma forma de estimular o combate a essa enfermidade é o fornecimento do certificado de propriedade livre de brucelose, como adesão voluntária dos produtores. Para a brucelose bovina, é considerada propriedade 24 livre a que possui dois resultados consecutivos sem nenhum animal reativo, num período mínimo de seis meses. Já para a brucelose ovina, as propriedades livres são caracterizadas por três testes negativos consecutivos com intervalos semestrais, com validade de 24 meses (BRASIL, 2004).

Partes do texto retirado: Boletim nº 209 Epagri 2023


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